O Preço Oculto do Progresso Digital: Energia, Água e o Futuro da Computação
A computação, talvez a maior revolução tecnológica da história moderna, já é tão ubíqua que seu impacto ambiental parece secundário aos nossos olhos vidrados por seu brilho. Em um mundo com soluções em nuvem e servidores a milhares de quilômetros, esse impacto parece insignificante. Contudo, a revolução digital acarreta consequências ambientais que merecem análise crítica.
O setor de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) é responsável por 4% a 8% do consumo energético mundial e 2% a 4% das emissões globais de gases de efeito estufa, comparável à aviação civil. O processamento de um prompt de IA pode equivaler a manter uma lâmpada LED acesa por horas. Os modelos de linguagem de grande escala consomem energia massivamente durante seu treinamento, com bilhões de parâmetros otimizados por meses.
Além da energia, a água é frequentemente negligenciada nessa discussão. Os processadores geram calor intenso, exigindo resfriamento contínuo. Grandes data centers consomem milhões de litros diariamente. O treinamento de um único modelo de IA pode consumir centenas de milhares de litros de água.
A fabricação de semicondutores exige silício de altíssima pureza e metais raros, extraídos em condições ambientalmente degradantes. Ao final de seu ciclo de vida, esses dispositivos contribuem para os 50 milhões de toneladas anuais de lixo eletrônico, com reciclagem abaixo de 20%.
Paradoxalmente, a computação também oferece ferramentas para a sustentabilidade: otimização de processos industriais, desmaterialização de serviços, trabalho remoto e algoritmos para gestão climática e de recursos. A própria IA pode desenvolver soluções para desafios ambientais.
Este paradoxo lembra o filme Blade Runner, quando Dr. Tyrell diz: "A luz que brilha duas vezes mais se apaga na metade do tempo. E você brilhou muito, muito intensamente." Nossa tecnologia atual alcança níveis extraordinários de desempenho à custa de uma grande pegada ambiental. Podemos desenvolver sistemas que "brilhem" sem consumir recursos insustentavelmente?
*Texto originalmente publicado no Jornal Pioneiro de Caxias do Sul-RS, 02/05/2025.*